Caretos de Podence

 

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Os Caretos de Podence são originários da aldeia de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Foram declarados Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO a 12 de Dezembro de 2019.

Inseridos nas festividades de Inverno, tão características na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, os Caretos de Podence representam imagens diabólicas e misteriosas que todos os anos desde épocas que se perdem no tempo saem à rua nas festividades carnavalescas. Interrompendo os longos silêncios de cada Inverno, como que saindo secretos e imprevisíveis dos recantos de Podence, surgem silvando os «Caretos» e seus frenéticos chocalhos bem cruzados nas franjas coloridas de grossas mantas.

Os rapazes mais novos que seguem e imitam os caretos são chamados facanitos e asseguram a continuidade da tradição.

Os Caretos vestem fantasias próprias. Os trajes destes diabos transmontanos são feitos de colchas vermelhas, decoradas com franjas de lã colorida, e máscaras angulares de folha de zinco, encarnadas, podendo ser ornamentadas com tinta. Por cima da cabeça, cobrem-se com um capuz de onde sai uma longa cauda, também ela usada como catalisadora do acto sexual aqui simbolizado. E depois, à cintura, o que mais importa, uma alinhada colecção de chocalhos e os seus repiques, os quais ouvimos sempre que, em grupo, os Caretos, quase todos solteiros, aceleram em direcção às mulheres.

Nos anos 70 não deveria haver na aldeia mais do que dois ou três fatos de Caretos. Em meados dos anos 80, com o regresso de alguns emigrados, e a criação da Associação dos Caretos de Podence, a tradição das correrias retomou o fôlego antigo e as ruas da aldeia voltaram a imergir na babel de mais de quarenta figuras endemoninhadas aos saltos por todos os cantos. A antecipar a continuidade da tradição, os Facanitos, crianças vestidas também com os inconfundíveis fatos de retalhos de lã e com máscaras de latão tentam imitá-los com as suas trôpegas e inconsequentes corridas.
Rituais
Mergulhando na raiz profana e carnal, o verdadeiro motivo que move o Careto é apanhar raparigas para as poder chocalhar. Sempre que se vislumbra um rabo de saia, o Careto é impelido pelo seu vigor.

Ao Careto tudo se permite nesses dias pois assume uma dupla personalidade. O indivíduo ao vestir o fato torna-se misterioso e o seu comportamento muda completamente, ficando possuído de uma energia transcendental. Existe algo de mágico e de forças sobrenaturais ocultas em todo este ritual de festa que atribuí a estas personagens prerrogativas a imunidade interditas a outros mortais[4]. A antiguidade e originalidade desta tradição, cheia de cor e som, e a vontade das gentes de Podence em preservar estas figuras fizeram dos Caretos personagens famosas para lá dos limites da aldeia.

No Domingo Gordo e na Terça-feira de Carnaval, os rapazes da aldeia encarnam misteriosas personagens vestindo trajes coloridos, feitos com colchas de franjas, e tapando a cara com máscaras de lata, madeira ou couro, de nariz pontiagudo. Prendem chocalhos e campainhas à cintura e cheios de energia percorrem a aldeia aos saltos e gritos, perturbando a calma diária. Um dos principais motivos das correrias é encontrar raparigas para dançar com elas e as “chocalhar”. Assim se divertem, protegidos pelo anonimato.

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